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carta...

Recife,...
Não sei que dia é hoje. Também não sei quando te escrevi minha última carta. Para mim, o tempo é o que menos importa. Estou sentada ouvindo música com aquele vestido que você me deu, lembra? Gosto de pô-lo à tarde para ver suas cores mudando com os tons do sol indo embora. E eu ainda não entendo o que houve. Você saiu aquele dia. Por onde você tem andado? A cama está posta, só um abajur me ilumina, o vinho pela metade... lembra de quando você lia Artaud pra mim? O Jorro de Sangue e aquelas coisas... tão divertido... essa tarde fiz os biscoitos de que você gosta, mas estão frios. Estou ouvindo o Chico... Ah, "tem que ser mulher pra sentir o Chico e homem pra entender Nabokov". Por que tanto silêncio seu? Noite passada sonhei que colhíamos girassóis e os jogávamos no rio. Você também estava sério. Me escreva! Não entendi sua última linha. E essa luz difusa que me arde... ah, é noite alta, agora bebo conhaque, não há lua nem estrelas e um frio de inverno se anuncia na brisa da madrugada. Me visite! Eu agora danço ao som de Weber, tonta, tonta. Girando, girando, girando...
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Esta carta foi encenada por Milena Wanderley numa peça realizada em 2003 no CAC da UFPE por nós. Eu encenei a dela.

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