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Pés descalços

Que pretendes ao me dividires assim? Metade de mim é turbulência e inquietação; outra, desterro e devoção.


Em qual parte habito? Me arremesso diariamente no meu ofício - nômade em mim, transito por estas terras. Não estás comigo, trago os pés machucados neste exílio a que me condenaste.


Virás buscar-me? Aguardo tua presença sonora para encher meus horzontes de plenitude. Mas não é nossa hora ainda. Plenilúnios surgirão, emersos do tempo, indicando o momento de nossa mutação. Só a um instante exato me tomarás a ti, transformando os desertos de que sou feita, em teus mares serenos.


Jana Kirschner
Foto: André Gusmão

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