Equilibrista
O que importa é o centro ou os corredores? Quem é mais importante? Eu? Os outros?
Nunca sei ao certo o que penso. À toda hora quero algo diferente. Ao acordar, te amo mas à noite, só quero te deixar.
É isto o querer? Como conciliar em mim o que há de oposto? Toda minha natureza grita que devo ser diversa de mim, refazer a cada instante. De que cinzas devo susrgir? De que partes me componho?
O que ficou de mim
além de eu mesma
não o sei.
Nada ficou de mim
além de eu mesma.
Tênue vontade de poesia
e mesmo isso
imperceptível sombra
de flor no ramo frágil.
Me equilibro frágil entre mim e mim. Se eu cair, que me ampara? Talvez apenas uma poeta sem nome, artífice do canto e companheira de vazio.
Ou nem mesmo ela.
Devesse eu tomar lições de abismo. O chão estaria sempre perto. Não é assim que se parece a água profunda?Sempre se toca o fundo, mesmo ao longe? Estico os dedos e não me toco. Sem flutuar, sem tocar o fundo.Talvez o abismo me dissesse.
Jana Kirschner
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