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Recife, 14 de janeiro

Recife, 14 de janeiro

As largas madrugadas de serão que tínhamos me vieram à mente hoje. Estava lendo uma crônica de Rubem Alves - As mil e uma noites. E achei que tinha a ver conosco.
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Mil e uma noites. As noites do infinito e uma mais. Uma noite além do infinito. O que se pode esperar mais? As palavras perdidas como pássaros cegos em nossas noites.
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'Teu corpo me vem em palavras
pássaros
te desejo.'
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E foi assim. Meu encanto por ti, por tua voz, pelo teu silêncio. Sobretudo teu silêncio. Aquático. Cristalino. Me vejo nos teus espaços de silêncio, labirintos que criaste. Onde me perdia a cada noite. Mil noites. Enquanto entrava nos teus corredores, falava. Falava para não me perder.
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Meu fio é minha voz. Mas não era a saída que buscava. Buscava o Minotauro - sua voz de novo em meus ouvidos. O amor vive neste sutil fio de conversação, balançando-se entre a boca e o ouvido.As palavras que voavam noite adentro sobre nós se transfiguraram. Estão paralizadas agora na distância do papel. Tua presença me vem de longe - pássaros cansados que se quedam imóveis na brancura do papel. Meus serões continuam madrugadas adentro. Há um silêncio sem labirintos me envolvendo.
Jana Kirschner

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