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Ausência

Ausência


Estou na sala, sentada. O licor pela metade, coleciono as flores de meu vestido. Me distraio com o amarelo banhando meus braços, invadindo todo o espaço.

No quarto, a cama está feita. Para quem? O que importa ainda? As suspensas no ar, recordações.

Ecos de um tempo antigo de memórias, a me rondar. O cansaço, a vaguidão – meus companheiros de entardeceres – afagam meus ombros num abraço cálido.
O telefone está perto, mas sei que não tocará. Você nunca me ligou antes, por que começaria agora? Mesmo assim, espero. Procuro sua letra entre as cartas que chegam.

Será que lembro ainda teu nome? Insensatez. Nunca entendi porque continuo aqui, agarrada às paredes e aos retratos. Teu cheiro ainda em minha pele.

Os passos no corredor seriam teus? O lento caminhar da solidão?

Gostaria de encontrar-te.

Falar das cousas
que já são perdidas.

Tuas mãos trementes
se desmanchariam
na sonoridade
Dos meus ditos.

Nos teus ouvidos
eu falaria de amigos

Quem sabe se amarias escutar-me.

Por que gravito desta maneira em torno de tua lembrança? Esperança? Sei que não voltarás.
Entrei neste labirinto sem novelos. Percorro corredores de solidão e ausência.
O que me aguarda no centro?
Jana Kirschner

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